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Portugal em Linha - O Ponto de Encontro da Lusofonia

Esta semana...

21.08.2001
Português, língua difícil?
Soube-se pela comunicação social que:
"O conselho de Ministros da CPLP aprovou, no dia 31 de Julho de 2001 em S. Tomé, o arranque do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP)."
"No âmbito da promoção e difusão da língua portuguesa decidiram aprovar os estatutos do IILP e o orçamento e quadro de pessoal, bem como a indicação de tarefas da directora provisória do IILP, a cabo-verdiana Ondina Ferreira, com vista ao arranque do Instituto."
"O Conselho de Ministros da CPLP foi antecedido por uma reunião dos Pontos Focais e do Comité de Concertação Permanente, que duraram dois dias cada, com o objectivo de preparar e analizar os novos projectos aprovados no dia 31 à noite."
"A VII Reunião do Conselho de Ministros dos Sete terá lugar no Brasil, em Julho próximo."
"Criado em Julho de 1998, o IILP não arrancou até ao momento, apesar do lançamento da primeira pedra da sede, oferecida por Portugal."
Afinal parece que o português é mesmo uma língua difícil... Ou será que tudo isto não é apenas para inglês ver ou, em português, para atirar poeira aos olhos de todos nós?
Fernando Cruz Gomesfernando Cruz Gomes

Crie-se mais uma comissão... para tudo ficar na mesma!

Em Portugal, e ainda não há muito, dizia-se que, quando se não quer resolver um problema... cria-se uma comissão. Infelizmente, o ditado, que já é mais velho do que quem estas linhas escreve, parece ter plena aplicação no caso em análise. Bem vêem, o tal IILP foi criado em Julho de 1998 e... ainda não arrancou.

O povo português - e os povos que os Portugueses enformaram à sua imagem e semelhança - são exímios em fazer que andam sem andarem. Não é por mal. É simples atavismo. Crescemos assim. Andámos em frente assim. Chega a parecer quase impossível que um povo como o nosso, desorganizado em doses mais do que maciças, faça mesmo assim coisas maravilhosas, como fizemos e estamos a fazer em todo o mundo.

Alguém disse, não há muito, que Deus deve ser Português. Por nós, diremos que se não é Português, parece... tal a protecção que nos dá.

Ora, entrando nos carris, ou seja no tema escolhido para esta semana, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, criado há uns anos atrás, e impulsionado em Julho deste ano, vai ter de andar em frente. Se já há estatutos, se não faltam o orçamento e o quadro de pessoal e se até o nome da directora interina é conhecido (Ondina Ferreira, de Cabo Verde)... o que é que falta? Sim, o que é que pode faltar?

É bem capaz de ser possível faltar, apenas e só, a tal "vontade política de fazer coisas válidas", que por norma não abunda em países como os nossos. Como hão-de ver, quando em Julho do ano que vem, o Conselho de Ministros dos 7 se reunir no Brasil... o IILP estará parado. Pode, efectivamente, não ter morrido... mas que estará moribundo, lá isso estará. E como entre os elementos que fazem parte do Conselho de Ministros não haverá nenhum Jorge Amado nem nenhum Mia Couto e, noutros domínios, nem sequer um Marcolino Moco, que está a cair em desgraça por dizer verdades a mais... verificarão os eventuais leitores desta matéria que o Português - língua difícil - vai tornar-se de "desenvolvimento" impossível.

Fazendo votos para que assim não seja... é bem capaz de assim ser.

OK. E DEPOIS?

Pois... e depois nada mais a dizer. Um Instituto, assim criado, não tem pernas para andar. Nós - os que ainda temos o feio hábito de pensar... - éramos bem capazes de ainda ir a tempo de resolver o problema. Nós, os que vivemos fora das fronteiras nacionais, mais aqueles que, em Angola e Moçambique, na Guiné e em Cabo Verde, para falarmos apenas em alguns Países, ainda éramos capazes de fazer "obra acabada". Até porque se há alguém que ama a sua Língua é aquele que está fora da Pátria onde o Português nasceu.

A afirmação de que os que estão fora... são mais puros na defesa do seu idioma do que os que por lá vivem pode parecer exagero. Mas não o é. É que, em qualquer um dos casos citados, haveria outras "formas de actuar e fazer", talvez até mais cómodas e mais úteis. Bastaria que os falantes de Português se encostassem à "bananeira" do Inglês e do Francês ou do Espanhol. Bastaria que os dialectos mais usados em determinados países fossem aprofundados e seguidos, sobretudo em países onde imperou o sistema de regime único que mandava em tudo e sobre tudo poderia legislar.

Portanto, os de fora... eram bem capazes de fazer coisas. Se o não fazem é porque sentem que não vale a pena...

Nem o Brasil nem Portugal - os Países que, pela sua geografia humana e "longevidade" estavam mais vocacionados para o efeito - dão um passo acertado nesse sentido. E não o dão porque julgam não valer a pena. E não o dão, porque o Português "é", "existe", "aprende-se no berço".

Ora, um Instituto como aquele que a CPLP pretenderia pôr a funcionar teria de ser manobrado por pessoas "de fora". Bem andou por isso quem decidiu entregar a primeira missão a uma caboverdeana ilustre. A partir desse dado adquirido... era só ter a coragem de ir buscar um Onésimo de Almeida, professor catedrático nos Estados Unidos, um Vítor Pereira da Rosa (Otava, Canadá), um Mia Couto (se ele quisesse). Estes e muitos outros deveriam ser o embrião de um grupo de "sábios" que, com as Academias de Ciências e de Letras, poderiam "dar a volta por cima" e ajudar a que o Português, enquanto Língua, ganhasse o espaço a que tem direito.

A própria Televisão - e citamos, apenas, a TV Globo e a RTP, vocacionadas para a "globalização" que também no domínio dos media se aproxima - tinha um enorme papel a desempenhar.

Só que, nesta como em muitas outras coisas, era preciso haver vontade política.Vontade política que nem sempre há. Os Poderes públicos, assoberbados com temas e assuntos díspares e para eles mais importantes, esquecem o cerne da sua existência, ou seja, a sua própria Língua. É por isso também que este Café Luso - servido em tão boa hora - é bem capaz de ter os dias contados. Somos cada vez menos os que querem "sorver" o néctar da "bebida da aproximação" que nos deveria unir a todos.

Repetindo conceito e forma: só que, nestes como em muitos outros aspectos, é cada vez mais necessário que haja muitos "D. Quixotes" a sonhar as "dulcineias" com que nos cruzamos e tuteamos. São eles que têm nas suas mãos as mèzinhas que hão-de salvar o Mundo.

Se ainda formos a tempo, claro.

Fernando Cruz Gomes
      Adelino SáAdelino Sá

Depois de ter gozado um período de três semanas em Portugal, eis que o nosso amigo António Ribeiro atira-nos com o tema: Português, língua difícil?

Caro António, o português é uma língua que promove e sustenta um grande número de interesses de vária ordem em todo o mundo... Aqui por estes lados, na Suíça, o português, na minha opinião, é uma operação de cosmética que serve somente para colocar na lapela de alguns ditos doutores e de alguns políticos.

Como é que se pode ensinar um bom português, ou razoável, se aos cerca de 12 mil alunos lhes é apenas concedido duas horas semanais e alguns deles em condições que muitos nem acreditarão: alunos na mesma sala a frequentarem diferentes anos lectivos, professores com diferentes estatutos laborais, cursos que talvez não sejam os mais adequados à realidade que por aqui se vive.
O problema é uma realidade dura e cruel, aliado aos ditos promotores oficiais da língua de Camões promoverem simplesmente em círculos privados, fora do alcance da comunidade, eventos que servem apenas para favorecer as elites de "pensadores" da cultura lusófona.

O português como língua tem um potencial que não está a ser aproveitado como deveria.
Se olharmos para a diáspora lusófona espalhada pelo mundo, vemos que são as iniciativas privadas que fazem prevalecer a chama camoniana um pouco em todos nós, um exemplo disto é o Portugal em Linha com este "cafézinho" nesta rubrica no "Conversas no Café Luso".

Por vezes, comenta-se o mau português que os nossos descendentes falam, escolhendo estes a língua oficial da comunidade de acolhimento para comunicarem. Isto é um facto que ninguém pode esconder ou escamotear.
É certo, que o fenómeno partiu também do grande fluxo migratório de portugueses que foram trabalhar para França, no regresso destes à Pátria, o português que falavam era um depauperado retalho de palavras misturadas com um sotaque foleiro do francês. Agora, as coisas melhoraram, esqueceram-se do português e falam agora francês correcto em Portugal. Este exemplo aplica-se também para aqueles que foram até às Américas, mesmo se a realidade e conjuntura daquelas bandas é bem diferente da Europa. Até pode ser que esteja a ser demasiado contundente, mas infelizmente tive a oportunidade de constatar isso mesmo nestas curtas férias que acabo de gozar.

Tive o privilégio de conhecer o Orlando pessoalmente no Café Garça Real na cidade do Porto, de onde sou natural, tenho a certeza que as conversas vão precisar de muitos cafés. Não se esqueçam de servirem o meu com adoçante, é que a linha assim mo impõe...

Adelino Sá

Na próxima semana: Santos de casa não fazem milagres


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Comentários

E de novo a preocupação de radiografar as esferas políticas em q tudo se passará - seja o ensino do português, seja outro o assunto - como perspectiva a enquadrar : é o português (lingua) difícil ?
Tive a experiência - não digo onde nem como, adivinhem se quiserem - de corresponder à iniciativa de potenciais alunos e me transformar - com formação outrora adquirida - num professor de português como língua estrangeira. A experiência - esgotante - entusiasmou-me e os alunos q ficaram depois das primeiras aulas, não arredaram pé até ao fim, eles tamb/ em horário pós laboral, c/ grande esforço, pois neste sítio e nesta parte do mundo trabalhava-se a sério, como "cá" poucos o fazem. No fim de um semestre, após avaliação e inquéritos prospectivos, fiz - fizemos - proposta de continuação. Sabem o q aconteceu ? Fui acusado, no quadro de nova administração entretanto chegada, de pertencer ao mundo corrupto e escandaloso dos q enchiam os bolsos com "tachos" e acumulações extra para enriquecer rapidamente e, além de ter de justificar - policialmente - o semestre anteriormente exercido, fui "aconselhado" a esquecer. Não comento mais porque outros valores - e condecorações q não tive, claro - se ergueriam para me tapar a boca, seguramente. Apenas digo q a experiência entrava pelo português, como lingua de comunicação sim, mas, sobretudo, como língua de "especialidade", instrumento de abordagem técnica em áreas laborais envolvendo diversas profissões afins. Experiência tentada mas não prosseguida, morta à nascença de morte matada, como se dizia, a brincar com as palavras.
Julgo q pelo mundo fora, situações semelhantes, com ingredientes diferentes, se passam e passaram, por certo. Não porque não haja no mundo canditatos interessados na nossa língua ou um mundo, no mundo, à procura das bases essenciais de comunicação em português, tão só. E não, tão só, da iniciação literária e cultural, universitária, a justificar uns tantos leitores pelo mundo fora.
Postas assim as coisas, q papel para o tal IILP - de q nunca ouvi falar até agora - além de ter sede com pedra atirada, quadro de pessoal, director interino ? Tambem gostava de saber, se é para saber q estamos, aqui, em português, a conversar. O meu café arrefeceu, entretanto. Tragam outro, por favor.
José M. Freire da Silva


Caros conterrâneos que me desculpem, pois não sou versado em literatura e nem menos tenho formação linguística. Apenas as vicissitudes da vida me fizeram nascer am Angola e estar agora a viver no Brasil, tendo já passado uma temporada nos Estados Unidos a trabalho. O que vi? Vários "portugueses" - o português de Angola, o de Portugal, o do Brasil e o que aos tropeços resta nos "mais velhos" que tentam, a todo o custo, passá-lo (oralidade) à sua prole nos EUA. Não acredito que mais um Instituto venha resolver a questão do nosso idioma. Creio, com todo respeito aos indicados para cargos nesse Instituto, que será mais uma dessas instituições inócuas que se tem produzido no afã de traduzir a lusitanidade. A meu ver, é preciso entender as culturas dos povos que falam o idioma luso em todas as suas vertentes, para tentar resgatar e manter o que possa ser um elo entre esses idiomas. Não cabe tentar amarrar com regrinhas uma coisa que é viva, como soe ser uma língua. Aqui no Brasil, o deputado federal Aldo Rabelo está lutando para impedir o uso de vocábulos estrangeiros, principalmente do inglês. Acho válida a tentativa. Não vejo, entretanto, nenhum suporte por parte da nossa embaixada ou autoridades portuguesas. Tal qual um Dom Quixote investindo contra os moínhos de vento, está lá o nobre deputado, levando sua mensagem a programas de TV, debates , etc. Onde estão nossos representantes em tudo isto? Sumiço geral. Aliás, é assim, sempre que o português é vítima de achincalhamento nestas terras de Santa Cruz. Há dias, o ilustre Dr. Carlos Mário nos circulou uma nota sobre o programa televisivo da Globo "Os normais" que denegria a "raça". Alguma manifestação de repúdio por parte de nossa embaixada? Não senhor. Silêncio absoluto. Há alguns anos, na mesma TV foi veiculado uma propaganda onde um japonês era colocado em situação vexatória, motivo de chacota. Imediatamente a embaixada daquele país entrou com uma representação no Conar - Conselho de Autoregulamentação publicitária e a dita propaganda foi tirada do ar. Isto sim, é defender a sua cultura, seu povo, seus princípios. Quem se deixa achincalhar em público é merecedor da chacota. E o meu café até arrefeceu...até a próxima.
Antonio Russo


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