Nobel da Literatura em
1998, faleceu hoje (18 de Junho de 2010) aos 87 anos na sua casa na ilha espanhola de
Lanzarote
José de Sousa Saramago, falecido hoje aos 87 anos, nasceu na aldeia
de Azinhaga, concelho da Golegã, a 16 de Novembro de 1922, embora esteja
registado como tendo nascido a 18, mas antes de fazer três anos
mudou-se para Lisboa com os pais. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em
1998.
Foi ao inscrever-se na escola primária, na capital, que se descobriu que
o funcionário do registo tinha acrescentado na sua certidão de
nascimento a alcunha da família, Saramago, como sendo apelido, o que
tornou o escritor no primeiro Saramago da família Meirinho Sousa.
Após fazer os estudos secundários em Lisboa, que por dificuldades
financeiras não prosseguiu, José Saramago começou a trabalhar como
serralheiro mecânico e exerceu ainda as profissões de desenhador,
funcionário da saúde e da previdência social, editor e tradutor, tendo
colaborado também como crítico literário na revista Seara Nova e como
comentador político no Diário de Lisboa (1972-73) e sido director do
Diário de Notícias (1975)."
Membro da primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e
presidente da assembleia geral da Sociedade Portuguesa de Autores entre
1985-1994, José Saramago, viveu, a partir de 1976, exclusivamente do seu
trabalho literário, primeiro enquanto tradutor e depois enquanto autor.
O seu primeiro livro, o romance "Terra do Pecado", saiu em 1947,
tendo José Saramago estado depois sem publicar até 1966, quando
regressou com "Os Poemas Possíveis", a que se seguiram, já na década de
70, "Provavelmente Alegria" (1970), "Deste Mundo e do Outro" (1971), "A
Bagagem do Viajante" (1973), "O Ano de 1993" (1975), "Manual de Pintura e
Caligrafia" (1977), "Objecto Quase" (1978) e "A Noite" (teatro, 1979),
entre outros.
Já nos anos 80 chegaram às livrarias "Levantado do Chão" (1980),
"Que farei com este Livro?" (teatro, 1980), "Viagem a Portugal" (1981),
"Memorial do Convento" (1982), "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (1984),
"A Jangada de Pedra" (1986), "A Segunda Vida de Francisco de Assis"
(1987) e "História do Cerco de Lisboa" (1989).
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo", o romance mais polémico do
autor, saiu em 1991 e dois anos depois surgia a peça de teatro "In
Nomine Dei", após o que tinha início a publicação dos "Cadernos de
Lanzarote" (1994, diário I, e 1995, diário II), reflexo da mudança de
Saramago para aquela ilha do arquipélago das Canárias.
O aplaudido "Ensaio sobre a Cegueira" foi dado à estampa em 1995, a
ele se seguindo mais dois volumes dos "Cadernos de Lanzarote", em 1996 e
1997, e o novo romance "Todos os Nomes", editado também em 1997, um ano
antes do quinto volume dos "Cadernos de Lanzarote".
Após a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 1998, a Fundação
Círculo de Leitores instituiu um galardão literário bienal com o nome de
José Saramago e a expectativa em torno de um novo trabalho do autor
aumentou, até que, no ano 2000, chegou às livrarias "A Caverna", a que
se seguiu "O Homem Duplicado" (2002).
O "Ensaio Sobre a Lucidez", publicado em 2004, foi apresentado pelo
próprio escritor em entrevista à Lusa como "uma fábula, uma sátira e uma
tragédia" e causou controvérsia por preconizar o recurso ao voto em
branco como sinal de desagrado dos eleitores perante o Governo.
Aquando do lançamento deste título, José Saramago criticou duramente
a democracia portuguesa por, na sua opinião, os governos serem
"comissários políticos do poder económico" e mostrou-se contra o
monopólio dos média.
No ano seguinte, o escritor publicou a peça de teatro "Don Giovanni
ou O Dissoluto Absolvido", escrita como fundamento dramático para o
libreto de uma ópera de Azio Corghi, compositor italiano que no final da
década de 1980 criara a ópera "Blimunda", inspirada na personagem
homónima do romance "O Memorial do Convento", voltando a recorrer aos
textos do Nobel da Literatura para outras óperas e para cantatas ao
longo dos anos 1990.
Em 2005, o escritor - que dizia não ser pessimista, "o mundo é que é
péssimo" - lançou também um novo romance, "As Intermitências da Morte",
que apresentou como "uma reflexão filosófica sobre a vida" e onde
coloca questões como: "Quais as implicações de uma vida mais longa?
Quanto tempo passaria a durar a velhice? Em que se tornaria o corpo
humano?", "Como se pagariam então as reformas, problema que já agora se
coloca?".
A vasta obra do escritor português encontra-se editada em mais de
trinta países, entre os quais Dinamarca, Suécia, Finlândia, Hungria,
Rússia, Turquia, Albânia, Eslovénia, Sérvia, Roménia, Macedónia, Síria,
Israel, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, México, Colômbia, Argentina e
EUA.
As ficções de José Saramago valeram-lhe o Prémio da Associação de
Críticos Portugueses (para "A Noite", em 1979), Prémio Cidade de Lisboa
(por "Levantado do Chão", de 1980), Prémio Literário Município de Lisboa
("Memorial do Convento", 1982) e o PEN Clube para "Memorial do
Convento" (1982) e "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (1984).
Este último livro valeu-lhe ainda o Prémio da Crítica da Associação
Portuguesa de Críticos (1985), o Prémio Dom Diniz (1986), o galardão
italiano Grinzane-Cavour (1987) e o Prémio de Ficção Estrangeira do
jornal The Independent (1993).
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo" recebeu o Grande Prémio de
Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 1992, no
mesmo ano em que "Levantado do Chão" foi galardoado em Itália com o
Prémio Internacional Ennio Flaiano, enquanto "In Nomine Dei" venceu, em
1993, o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores.
Pelo conjunto da sua obra, Saramago foi ainda distinguido com o
Prémio Internacional Literário Mondello e o Prémio Literário Brancatti
(ambos em 1992), Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de
Escritores (1993), Prémio Consagração de Carreira da Sociedade
Portuguesa de Autores e Prémio Camões (os dois em 1995) e Prémio
Nacional de Narrativa Città di Penne, Prémio Europeu de Comunicação
Jordi Xifra Heras e Prémio Nobel da Literatura (os três em 1998).
José Saramago acumulou ainda doutoramentos Honoris Causa pelas
universidades de Évora (Portugal), Turim (Itália), Sevilha e
Castilla-La-Macha (Espanha), Brasília (Brasil) e Manchester
(Inglaterra), foi membro Honoris Causa do Conselho do Instituto de
Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de
Pisa (Itália), membro da Academia Universal das Culturas (Paris) e do
Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo) e membro
correspondente da Academia Argentina das Letras, além de Comendador da
Ordem Militar de Sant'Iago de Espada e Cavaleiro da Ordem das Artes e
das Letras Francesas.
Criador de um universo muito próprio, por vezes alojado entre o real
e o fantástico, Saramago acreditava, à semelhança de Laurence Sterne,
que talvez intercetasse pensamentos que os céus destinavam a outros
homens.
fonte: nociciaslusofonas.com
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