A manifestação começou às 13h00 na praça da Ópera
de Frankfurt e terminou às 15h30 na Zeppelinalle junto ao Vice-Consulado
(VC). A Manifestação começou com cerca de 1000 manifestantes (segundo
informação de participantes) estando no comício final junto ao
consulado, segundo informação da polícia, cerca de 400 a 500.
Estiveram presentes a televisão alemã hr-Fernsehen und Hessische Rundfunk e o Frankfurter Rundschau.
No local de ajuntamento inicial, Junto à Ópera, foi transmitida a
música/poema “Longe Daqui „de Pedro Barroso. Durante o cortejo com
muitos cartazes e acompanhado de tambores, de palavras de ordem como
“Ministro Portas não nos feche as portas” e de cânticos revolucionários,
não faltou mesmo a primeira estrofe do Hino Nacional com a adaptação:
“contra os barões lutar” em vez de “contra os canhões lutar”.
Ao chegarem ao VC os manifestantes lançaram ao ar 100 balões com as cores da bandeira portuguesa.
De seguida tomou a palavra o coordenador da demonstração António
Justo, porta-voz do conselho consultivo junto do posto consular (cf.
texto em nota) seguindo-se a voz de Helena Barreto, acompanhada à viola
por José Luís Coelho que intercalaram os discursos com a \"Cantilena\"
(Cortaram as asas ao rouxinol) letra de Sebastião da Gama, música de
Francisco Fanhais, com a \" Trova do vento que passa\" música de
António Portugal e letra de Manuel Alegre; as duas violas e a bela voz
de Helena reflectiram bem o estado de espírito dos manifestantes,
também, com \"Ei-los que partem\". Foram ainda declamados em Português
e alemão os poemas de Fernando Pessoa: “Mar Português” e “Quinto
Nevoeiro”. O conselheiro Alfredo P. Cardoso, do CCP, manifestou a sua
solidariedade com o Conselho Consultivo e com os manifestantes apelando
também ele ao governo para que não encerre as portas do VC. Vítor
Estradas, Presidente da FAPA, transmitiu telefonicamente a sua
solidariedade com o Conselho Consultivo do VC e com os manifestantes.
Toda a comunidade portuguesa, distribuída pelos três Estados
alemães, contribuiu duma maneira ou doutra na campanha contra o fecho do
VC, concorrendo também para o sucesso e bom decorrer da manifestação.
Houve pessoas que trabalharam muito sem se encontrarem sob os holofotes
do público, como foi o caso de Carlos e Dina André, Manuel Costa,
Apolinário Madeira, Cristina Arad e muitos outros. De não esquecer
também o contributo da TFM, na feitura dos autocolantes contra o fecho
do consulado, distribuídos aos manifestantes e público. Apenas um
aspecto negativo: a comparticipação de ranchos fardados foi bloqueada
por alguns. De mencionar também o facto de, na manifestação, também
algumas pessoas com os trajos dos grupos folclóricos terem sido objecto
das câmaras da TV alemã.
António Justo entregou algumas listas de abaixo-assinados à
funcionária consular Irene Rodrigues, apenas como símbolo da iniciativa
de assinaturas que serão entregues na presidência da república depois
dos meados de Novembro.
Por solicitação de António Justo a funcionária Consular Irene Rodrigues saudou os portugueses e encerrou a demonstração.
Foi comovente o encontro dos manifestantes com o pessoal do
consulado que durante a manifestação tinha permanecido nas instalações
consulares.
Vários manifestantes sugeriram que, em Dezembro, se iniciem acções
espectaculares junto ao Vice-consulado de maneira a chamar a atenção dos
Media e dos políticos para o grave erro que constituiria o encerramento
do Consulado.
Da observação dos manifestantes presentes na manifestação
depreende-se uma forte solidariedade entre grupos e pessoas
independentemente das opões políticas.
Versão portuguesa do discurso de António Justo:
Caros Manifestantes/ Minhas senhoras e meus senhores.
Estamos todos de Parabéns. Esta é a hora portuguesa aqui em Frankfurt.
Somos Portugal e ao sermos Portugal trazemos no nosso coração o
mundo inteiro. Temos sido um povo usado e abusado por elites que muitas
vezes se têm revelado mercenários de Portugal.
Caros portugueses
Portugal atravessa uma hora dramática da sua história. Portugal
precisa da ajuda dos portugueses, dos luso-descendentes e dos seus
amigos alemães. Portugal precisa de poupar. Precisa de poupar mas com
perícia, imparcialidade e justiça.
Se Portugal reduzisse aqui na Alemanha dois consulados para
vice-consulados já pouparia dinheiro mais que suficiente para manter um
vice-consulado. O vice-cônsul pode fazer o que um cônsul faz e
muitíssimo mais barato. Levem-nos um cônsul e deixem-nos o
vice-consulado. Um consulado honorário também não seria solução. Um
consulado honorário para quem? Já nos chega o exemplo do consulado
honorário de Munique!
-Torna-se difícil contra-argumentar, aqui, convenientemente, dado
não haver motivos para o encerramento e este ter sido perpetrado pela
calda da noite, pelos senhores do Olimpo, pelos senhores diplomatas, sem
que Frankfurt fosse sequer chamado a dizer uma palavra sobre o assunto.
O único diálogo, a única comunicação que houve foi uma ordem: entreguem
as chaves do posto consular ao senhorio até fins de Dezembro. O Senhor
Ministro Dr. Paulo Portas está a ser enganado por quem o aconselhou. Se
encerrar Frankfurt manifesta-se cativo dos senhores diplomatas de
carreira e de interesses obscuros. Frankfurt está a ser sacrificado
devido a um acto irracional em favor de diplomatas de carreira.
Sacrificam-se os serviços ao povo encerrando o vice-consulado para
poupar algum cargo a carreiristas.
- Na área consular de Frankfurt (Hesse, Renânia Palatinado e Sarre), somos 30.000 portugueses. Em toda a Alemanha 117.000.
- Frankfurt ocupa o terceiro lugar na Alemanha na efectivação de actos consulares, sendo o segundo a poupar mais.
- Frankfurt é o local onde se regista o maior número de votos para as eleições portuguesas.
- Frankfurt – é o grande centro financeiro centro da Europa, com o
maior nó internacional de ligações estratégias, feiras internacionais do
automóvel, dos têxteis, do livro, etc. A expansão da economia
portuguesa teria de passar por aqui. As outras nações sabem disso; por
isso Frankfurt é a cidade alemã com maior número de consulados: 104. É o
lugar ideal para fomento de ligações económicas entre firmas
portuguesas e alemãs.
-Frankfurt poderá apoiar os altos representantes governamentais ao fazerem escala no aeroporto internacional de Frankfurt.
- O encerramento obrigará pessoas a grandes deslocações e a correr o
perigo de não serem atendidas no mesmo dia. Frankfurt é central e ao VC
poderia ainda ser anexado parte do Estado Federado da Baviera, tal como
acontecia noutros tempos.
-Reduzam-se as despesas, das Instalações do VC de, para metade (de
5.800 Euros mensais para metade, ou menos ainda, passando a ocupar um só
andar. Estava concebido para doze funcionários, no tempo das vacas
gordas. Até ao princípio deste ano tinha 6 funcionários.
- A longo prazo poderia tornar-se mais económica a compra dum edifício que reunisse VC, Turismo e TAP.
-Nos termos de rescisão legal de contratos, com indemnização, também
se poderia proceder a uma redução de pessoal. O Vice-cônsul poderia
delegar tarefas no n° 2 dos serviços para ter disponibilidade para a
vertente económica.
-Não teria sentido extinguir-se um VC com uma área de 30 mil
portugueses e manter- se um consulado com 11 mil e ainda o luxo dum
cônsul.
- Em todas as representações diplomáticas da Alemanha poderá
poupar-se muito dinheiro ao erário público. DIVIDA-SE O HAVER E O DEVER.
HÁ MUITAS VIABILIDADES DE POUPAR. Faça-se o levantamento das despesas
das diversas estruturas. O Consulado de Hamburgo nada em luxo estando ao
serviço dum terço dos portugueses em comparação com Frankfurt
- Portugal daria um bom exemplo a nível internacional se todas as
despesas/subsídios de representação e de subsídio de residência fossem
reduzidas para metade.
- Num momento em que a economia portuguesa necessita de impulsos à
exportação, e a Europa está atenta à política portuguesa, o encerramento
seria um falso sinal sob o ponto de vista de estratégia económica.
Atendendo à realidade factual, o possível argumento de encerramento
por medidas de austeridade é falacioso escondendo certamente algum
negócio menos limpo.
Precisa-se dum novo formato de postos consulares e de uma nova
geração de diplomatas - menos medievais e mais democratas. Para isso
podiam ser recrutados jovens da segunda e terceira geração, verdadeiros
embaixadores interculturais e da economia.
Com o encerramento deste vice-consulado, o Estado português
abandonaria um ponto estratégico do mais alto prestígio internacional e
de vital importância económica, política e cultural. Uma representação
antiga que remonta já a 1960.
Estamos aqui a marcar uma nova forma de protestar, uma inovação nas
formas de manifestações. Com a nossa manifestação quisemos mostrar a
vontade de defender o nosso VC e expressar a pluralidade e a capacidade
de inovação dos valores da nossa cultura.
Estamos a construir Portugal não só com as nossas remessas mas com
interesse que os luso-descendentes fundem firmas e negócios e que as
instituições portuguesas no estrangeiro se tornem em verdadeiras
promotoras de Portugal.
Viva os portugueses, viva os nossos amigos estrangeiros, viva os amigos alemães, viva Portugal.
António da Cunha Duarte Justo
Porta-voz do Conselho Consultivo
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