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Fernando Cruz Gomes




Querem outra guerra?


A paz deverá ter chegado a Angola. O canhão não troará mais. E é agora a altura exacta para que os "homens bons" do regime e os outros... comecem a dialogar, para encontrar uma forma de fazer regressar o "desejo de viver" ao martirizado povo angolano.

Só que, a avaliar pelas informações que chegam de Nova Iorque, a UNITA está banida nas instâncias internacionais e assim ficará mais algum tempo. Ninguém entende muito bem a razão por que o Conselho de Segurança da ONU continua a fazer de conta que nada se passou em Angola. Que não houve acordo de paz. Que os generais dos dois lados não aceitaram subscrever uma declaração, segundo a qual "as armas... já se calaram".

Aliás, há mesmo até quem diga que esse facto é que está na origem de um certo "endurecimento" da posição da ONU. É que eles não entendem - ou melhor não querem entender... - que o actual acordo de cessar-fogo só foi possível exactamente devido ao facto de ter sido feito só entre angolanos.

Quando da assinatura, não estava lánenhum representante da ONU, de Washington, de Moscovo ou de Lisboa, a soprar directivas. E isso para os que se arvoravam em ser "padrinhos" dos acordos é... inadmissível.

A Unita bate-se, de facto, agora, pelo fim das sanções. Argumentam os actuais dirigentes do Galo Negro que já não estão em vigor as causas que levaram a ONU a aplicar as sanções. Na carta que Paulo Lukamba Gato enviou com cópias ao secretário-geral das Nações Unidas e aos Presidentes dos Estados Unidos, Federação Russa e República Portuguesa, é recordado, com grande soma de pormenores, que logo na altura do primeiro pacote das tais sanções... Koffi Anan insistiu que não se tratava de punir a UNITA, mas sim "encorajá-la a regressar ao Protocolo de Lusaka".

Foi isso? - Entende-se assim que o último dos obstáculos ao levantamento das sanções foi removido Só que a ONU não se comove e mantém tudo como dantes. Os dirigentes "rebeldes" que estão em Angola... ficam e os que estão fora... fora permanecem. Como é que se dão os passos necessários para as negociações? Como é que se arranja uma liderança forte para a UNITA? O pior no meio disto tudo é que a alteração ao status quo tem de ser feita com a bênção do Governo de Luanda. E este há-de querer subjugar os "recalcitrantes" até mais não poder. Motivo porque é bem capaz de entender que já tem suficientes dores de cabeça com os que estão lá dentro... não querendo atingir a "doença final" com a vinda de mais.

A posição do Governo de Angola é, assim, mais ou menos dúbia. Por um lado, acha que "a guerra acabou" e quer negociar tudo à luz do acordo de Lusaka. Por outro, nega à ONU a luz verde para o levantamento das sanções, falando em "levantamentos parciais", em "medidas apropriadas" e coisas perfeitamente vagas para não levar a lado algum.

Se não é para dificultar a reorganização da UNITA... não sabemos a que atribuir este género de pressão. É que muitos dos dirigentes mais qualificados da UNITA estão fora das fronteiras e, face às sanções, não podem ir para Luanda. E os que estão lá dentro... não podem sair. Democracia assim? Protocolo de Lusaka assim? - É que a UNITA tem fora, na chamada Missão Externa, nomes como Isaías Samakuva, Ernesto Mulato e João Vahekeny, sem esquecer outros como Jardo Muekalia (Washington), Adalberto Costa Júnior (Roma), Azevedo Kanganje (Bruxelas) Adélio Sanguende (Paris), Boris Mundombe e Marcelo Dachala "Carriça", estes dois, segundo o "Angolense" com paradeiro incerto e tidos como fundamentais na rede de venda de diamantes e de compra de combustíveis e de armas para a Unita.

Pois é. Se fosse noutros tempos, e com outros dirigentes, toda esta "mecânica" era capaz de ser suficiente para levar a outra guerra... Só que os tempos mudaram. Mudaram... menos no Futungo de Belas e no areópago internacional que se chama ONU.


Fernando Cruz Gomes
Toronto, Canadá
fgomes@globalserve.net

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