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Afinal há terrorismo de boa qualidade?


O que se passou, o que se passa e o que se passará nos (e a partir dos) EUA é algo que me faz pensar em duas frentes. Por um lado, creio que quem mexer no passado deve perder um olho. Mas, é claro, quem o esquecer deve perder os dois. Por outro, se se adoptar a política do olho por olho, dente por dente, corremos o risco de ficarmos todos cegos e desdentados.

É também claro que (pelo menos para mim) todos Bin Laden devem ser punidos, estejam eles onde estiverem, tenham passaporte afegão, americano, angolano ou de qualquer outra nacionalidade.

Milhares de pessoas, entre as quais gente lusófona, morreram no ataque terrorista a Nova Iorque e a Washington. O Mundo parou para ver, lamentar e condenar. As televisões, sobretudo elas, mostraram até à exaustão imagens que revoltam todos aqueles que, por regra, têm sangue nas veias. Não era para menos.

Deixem-me, contudo, recordar que não é só nos EUA que os actos terroristas matam milhares de pessoas. A diferença está no facto de, em Angola por exemplo, não haver CNN a transmitir em directo (ou em diferido que fosse) os bombardeamentos com napalm e semelhante às aldeias de civis.

E, neste caso, nem os EUA, nem a NATO, nem a Rússia ou Portugal se preocupam.

Também são aos milhares. Mas como estão lá nas terras do fim do Mundo... pouco importa.

Aliás, como têm petróleo e diamantes, até é bom que se vão matando (aos milhares, reforço), até é bom que vão morrendo de fome. A indústria bélica do Mundo, sobretudo dos EUA, vai continuar a ter necessidade de mercados com elevado potencial (gente para morrer e petróleo para pagar).

E o petróleo de Angola para onde vai? E os angolanos como (sobre)vivem?

E das duas uma. Ou há dois tipos de terrorismo, um bom e outro mau, ou então é preciso impor alguma moralidade na forma como se trata do assunto.

Terrorismo mau é só aquele que é transmitido pelas televisões? Vítimas só são as que estão em nossa casa?

É claro, refira-se mais uma vez, que o terrorismo é todo ele mau. Os autores devem ser punidos.

Mas devem ser punidos todos. Não apenas aqueles que se atreveram a chatear o tio Sam.

Os americanos devem, aliás, ter cuidado para (mais uma vez) não fornecerem aos amigos de momento a corda com que estes, mais tarde, vão enforcar... americanos.


Orlando Castro
Porto, Portugal - 17/09/2001
orlando@orlandopressroom.com

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