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Terrorismo e Religião


"Acredito hoje que estou agindo de acordo com o Criador Todo-Poderoso. Ao repelir os Judeus, estou lutando pelo trabalho do Senhor." (Adolph Hitler, Discurso no Reichstag em 1936).
O Holocausto e a destruição das sinagogas, em toda a Alemanha, foram praticados em nome de Deus. Israelenses e Palestinos lutam há muitos anos pelo controle da Cidade de Jerusalém, e se matam em nome da Fé. Os católicos europeus que participaram das Cruzadas, em dez expedições militares à mesma Jerusalém, entre 1.096 e 1.272, mataram, saquearam e destruíram Mesquitas, e queimaram edições valiosas do Corão, e uma infinidade de tratados científicos e filosóficos. Os talibãs e seus fanáticos suicidas praticam o terrorismo em todo o Mundo, para exterminar os infiéis, em atos irracionais, que culminaram com o atentado de onze de setembro, supostamente praticado também por ordem de Deus, o que me deixa extremamente pessimista a respeito do futuro da inteligência humana.
Esse ataque em Nova York e Washington é o início de uma guerra religiosa e cultural, uma guerra entre o Islã fundamentalista e o resto do Mundo, uma guerra contra os países "liberal-democráticos" e os regimes árabes e muçulmanos moderados. Bin Laden e seus seguidores consideram a América como o seu principal inimigo, em decorrência de sua liderança sobre o Mundo ocidental, dito democrático, e pelo apoio aos regimes árabes moderados, e especialmente porque eles acreditam que a América está contaminando os locais sagrados do Islã, particularmente na Arábia Saudita, pela presença de seu pessoal militar nos países do Golfo Pérsico, desde a Guerra de 1.991. A América também é condenada pelo seu apoio a Israel, que de acordo com Bin Laden fere o próprio coração do Mundo islâmico.
A retaliação americana, através da operação pomposamente denominada "Justiça Infinita", será certamente violenta e talvez até desproporcional, a julgar pelos exemplos do passado, em especial pelo lançamento das duas bombas atômicas no Japão, mas eles não se esqueceram de pedir a proteção de Deus para a sua empreitada: "God bless América". A monstruosidade humana, com certeza, é que é infinita.
Desde a Antiguidade até hoje, o homem vem praticando uma enorme série de atos brutais contra o seu semelhante e contra os símbolos de sua fé, como aconteceu durante a conquista do Novo Mundo, pelos ingleses, pelos portugueses e pelos espanhóis. Não existe nenhum exemplo de um povo conquistador que não tenha escarnecido ou atentado contra os mais sagrados valores do povo vencido. Até mesmo no próprio seio de cada sociedade as lutas fratricidas têm envolvido as divergências religiosas, como é o caso atual de católicos e protestantes, na Irlanda. A insanidade religiosa, utilizada como justificativa para atos terroristas, não tem sido exclusividade de nenhuma religião.
A História nos apresenta uma repugnante riqueza de testemunhos a respeito da irracionalidade do homem, do seu desprezo e do seu ódio pela fé do próximo e por todas as suas realizações. As piores qualidades do ser humano, como a intolerância, o ódio e a barbárie, não diminuíram nos últimos séculos. Ao contrário, mantiveram intactas todas aquelas forças perversas que se revelaram pela primeira vez naquele exato momento em que o primeiro homem, que acreditou ser o único destinatário das bênçãos de um Ser Supremo e o único dono da Verdade, aniquilou o primeiro homem que ousou pensar de forma diferente.
O fanatismo e o terrorismo somente podem florescer - se é que se pode empregar essa palavra, à sombra da ignorância. Melhor dizendo, eles somente podem germinar, como ervas daninhas que são, com todo o viço, na mentalidade de povos ignorantes e miseráveis, como é o caso dos afegãos, controlados por uma ditadura religiosa que lhes retira até mesmo a possibilidade de conhecerem o Mundo que os cerca. A União da Igreja e do Estado é especialmente perigosa, porque permite um controle muito mais efetivo sobre a vontade do povo, deixando a este apenas uma alternativa, a de obedecer às ordens de seus líderes, que são os intérpretes máximos da vontade de Deus, ou morrer como herege. Ao povo resta apenas uma opção: viver miseravelmente ou morrer praticando um ato de terrorismo, matando o maior número possível de infiéis, para agradar a Deus e merecer um lugar no Céu, ao lado de 72 virgens.
Existem hoje várias dezenas de organizações terroristas, em todos os cantos do Planeta, integradas por assassinos insanos que se consideram heróis e santos, e que matam sem piedade, em troca da felicidade eterna. O terrorismo é uma doença social, que cada vez se torna mais grave, porque cresce no solo fértil da ignorância, da corrupção e da miséria, e se fortalece com o auxílio do fanatismo religioso. O terrorismo é também uma conseqüência direta da extrema injustiça social, quer no âmbito interno, de cada Estado, como no plano internacional. É a única maneira de enfrentar os mais fortes.
Tudo isso me leva a pensar, para tentar compreender todas essas barbaridades. Aliás, pensar não dói, ao contrário, a irracionalidade é que é a mãe de todas as misérias e de todos os sofrimentos. Mas tudo isso me leva a pensar, sobre a afirmação de que Deus criou o homem à sua própria imagem. Não consigo entender como isso seria possível, a não ser que acreditemos em um Deus diabólico, capaz de ordenar a morte de centenas ou milhares de inocentes, em nome da Fé. Ou em vários Deuses, cada qual ordenando a matança dos seguidores das outras religiões. Eu, por mim, apesar de toda a minha boa vontade e por mais que me esforce, não consigo acreditar que Deus ordene esses massacres, mas também não consigo acreditar que fomos feitos à sua imagem e semelhança. Talvez eu esteja errado. É muito possível.

Fernando Machado da Silva Lima
Belém, Brasil - 20.09.2001
profpito@yahoo.com

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