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Carlos Mário Alexandrino da Silva


15 de Agosto de 1648 - SÃO PAULO DŽASSUMPÇÃO DE LOANDA FOI LIBERTADA POR TROPAS BRASILEIRAS


No período que vai desde 1641 até à altura da Restauração de Angola, em 1648, ficou o Brasil em angustiosa situação econômica devido à falta de renovação da mão-de-obra escrava, ocorrendo então um grave declínio da colonização portuguesa, ao mesmo tempo que aumentava, de maneira notável, o progresso das regiões ocupadas pelos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais comandados por Maurício de Nassau.


Em virtude de sua privilegiada posição estratégica com litoral no Atlântico Sul, em frente de Angola, e pelas condições que ofereciam os seus portos, em particular a Bahia e o Rio de Janeiro, estava o Brasil em ótima situação para servir de ponto quase obrigatório de passagem das armadas que se dirigiam a Angola. Destarte sucedia com as frotas comerciais, que iam sempre ao Brasil e só dali alongavam a sua viagem até Angola. Duas armadas militares enviadas a Angola em 1645 tiveram na Bahia a sua base naval, o mesmo tendo acontecido à armada libertadora de 1648.

Quando Angola foi libertada dos holandeses , os negros dali idos , já em número elevado, constituíam um apreciável aglomerado social que continuava vinculado espiritualmente à sorte da sua terra-mãe, sendo de destacar, entre eles, o negro Henrique Dias, o qual combateu valorosamente pelo estandarte Real tanto no Brasil como em Angola. A História que se ensina nas escolas brasileiras e portuguesas, ou melhor, nas escolas lusófonas, ignora ou quase ignora que negros, mestiços e brancos colaboraram entusiasticamente na empresa "angolana", solidarizando-se em bloco na tarefa da libertação e reconquista de Angola e São Tomé e Príncipe.


As obras da historiografia colonial lusitana editadas pela extinta Agência Geral do Ultramar (ou das Colônias), de Lisboa, mereciam, a bem da cultura lusófona, ser re-editadas para conhecimento das novas gerações. Fica aqui esta sugestão que não abrange apenas essas mas toda e qualquer publicação, mesmo de outros editores, que possa contribuir para uma pesquisa histórica realmente válida e séria, seja ela de instituições criadas por Salazar ou por outras de regimes anteriores ou posteriores ao do "padre-ditador".
Seguindo Antônio de Oliveira Cadornega em História Geral das Guerras Angolanas (ed. 1940-1942) e documentos da época - Torre do Tombo em Lisboa e Arquivo Histórico Ultramarino - constata-se que os moradores do Rio de Janeiro contribuíram com cerca de 60 mil cruzados para financiarem a expedição a Angola de Salvador Correia de Sá e Benevides, quantia essa que representa, conforme escreveu o historiador Prof. Doutor Pe. Antônio da Silva Rego do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa in "A dupla restauração de Angola", Lisboa, 1948, "quase a totalidade do custo da expedição que orçou por cerca de 70 000 cruzados". Este aspecto da contribuição brasileira reveste-se de grande importância porque no Brasil encontrou Salvador Correia cinco navios para a armada, além dos que ali terá comprado a expensas pessoais. E não só as embarcações mas também os canhões e cerca de 900 infantes alistados no Rio de Janeiro. Pode dizer-se que foi o Brasil a arcar com todos os encargos e responsabilidades... Quanto ao comandante da expedição, Salvador Correia de Sá e Benevides, natural de Cadiz mas que viveu a maior parte da sua vida no Rio de Janeiro, é indiscutivelmente o exemplo tríplice do contributo patriótico, militar e social do Brasil na empresa angolana:
-Socialmente com sua formação e personalidade brasileira; Patrioticamente com sua ação indómita, destemida, e sua tenacidade; Militarmente, como chefe de rara têmpera e que não deu apenas o comando mas também a sua contribuição para a organização e equipamento da expedição.
Com dinheiro brasileiro, com soldados e marinheiros brasileiros, com donativos populares brasileiros e com navios brasileiros, fez-se a reconquista e reintegração de Angola ( tempo, Luanda e Benguela ) nos domínios da Coroa portuguesa.

PADRE ANTONIO VIEIRA CHORAVA PELA FALTA DE ANGOLA


Economicamente todo o Brasil se ressentia sendo o panorama tão avassalador que o Pe. Antônio Vieira , o dos célebres SERMÕES, até "chorava de amargura". A situação interna era desastrosa, quase todas as capitanias se queixavam da falta de equipamentos militares e de soldados, sendo incessantes os apelos para o reino, onde o Conselho Ultramarino estava voltado para o estudo das medidas a adotar no sentido de prestar socorros às colônias ameaçadas pelos corsários... Mas era visível o embaraço do monarca, porquanto seus seguidores haviam alijado a monarquia filipina, existia um clima tenso entre Portugal e a Espanha, a Holanda havia pouco tempo que deixara de estar sob o jugo da monarquia espanhola; por conseguinte era politicamente mais recomendável, seguindo as lições de Maquiavel em "O Príncipe", deixar tudo por conta dos brasileiros sem se comprometer abertamente na aventura que, na verdade, era contra a Companhia das Índias Ocidentais e a Companhia das Índias Orientais e não contra, ostensivamente, a nação flamenga...Este aspecto tem sido omitido pela maior parte dos estudiosos, mas ressalta à evidência que Salvador Correia de Sá, cansado de participar sem resultados eficazes em reuniões do Conselho Ultramarino, acabou por se decidir a fazer tudo segundo o seu alvedrio, conta e risco.

A necessidade do Brasil "português" era mais sensível em contraste com o progresso que se verificava nas regiões ocupadas pelos holandeses da Companhia das Indias Ocidentais, na medida em que esses não perderam o ensejo de se abastecerem consideravelmente de mão-de-obra escrava, africana, para os engenhos de açúcar que haviam arrebatado dos portugueses. Os corsários flamengos de Nassau tinham verificado que a excelente posição de Angola em frente ao Brasil, acompanhando-o desde o Rio Grande do Norte dos nossos dias até à divisa do que hoje denominamos de Espírito Santo com a Bahia, permitia abastecimentos seguros e rápidos de escravos que as lutas e os costumes tribais angolanos proporcionavam sem delongas. A afirmação produzida pelo Padre Antônio Vieira de que sem Angola não havia negros e sem estes não havia Pernambuco, era, portanto, aceite por ambas as partes contendoras. Isso, aliás, justifica a ocupação holandesa de... "Angola" em 1641, uma ocupação principalmente determinada por motivações econômicas, já que os holandeses se limitaram ali a conquistar ou invadir os mais importantes pontos do litoral, onde implantaram, à vontade, vastíssimos entrepostos negreiros.

Embora a maior parte dos autores procure encobrir ou suavizar o papel ambíguo do rei D. João IV, o primeiro da desastrada e desastrosa dinastia de Bragança, que assinala a decadência acelerada de Portugal realizado fora da ocidental praia lusitana, a verdade é que, se ele nunca oficialmente reconheceu o domínio holandês em Angola e na nomeação de Salvador Correia de Sá e Benevides, em 1647, usou de termos vulgares não tecendo qualquer menção à reconquista de Luanda, por outro lado nunca produziu nenhum instrumento de repúdio ou condenação pela ação dos flamengos das Companhias das Indias Orientais e Ocidentais, parecendo que tudo não passava de um mero diferendo de fundo místico-religioso... Os holandeses eram protestantes, seguidores da doutrina luterana... É mister ter-se em conta que a cúpula daquela empresa, ao dar-se a restauração da monarquia portuguesa em Portugal, a 1 de Dezembro de 1640, avisou rapidamente o Conde Moritz de Nassau, governador do Brasil holandês, aconselhando-o a agir com presteza, antes da suspensão oficial das hostilidades entre Portugal restaurado e a Holanda. Com efeito, a 12 de Junho de 1641, Portugal negociou umas tréguas difíceis de observar, tanto de uma parte como da outra. Escreve Antônio da Silva Rêgo a este respeito in "História do Império Português", página 217: "Os portugueses não queriam conformar-se com a ocupação holandesa do Brasil. Os holandeses também se não conformavam com a presença dos portugueses no Brasil." Por isso, uma forte esquadra comandada pelo famoso corsário flamengo Jol, o "Houtbeen" ou "pé de pau", fez-se sorrateiramente ao mar, com o fim, diziam, de combater a armada de prata espanhola." Luanda, sem defesa possível, desde 1636 governada por Pedro César de Meneses, capitulou, mas o governador e sua tropa haviam retirado para o interior, quase duas centenas de quilômetros, estabelecendo-se e fortificando-se em Massangano, capital provisória da colônia...
Embora contassem com o apoio das hordas da "raínha" Jinga, com a simpatia do rei do Congo e com a cumplicidade dos sobas dos Dembos, os holandeses contentavam-se com a posse de Luanda e Benguela, dominando a costa e enviando fortes contigentes de escravos para o "seu" Brasil. Contudo, não era confortável a situação dos portugueses, mesmo assim, porque, em abono da verdade, "o sertão revoltara-se abertamente contra eles." Em fins de 1643 desembarcou no Reino o Sargento-Mor Domingos Lopes de Sequeira, enviado pelo governador Pedro César de Meneses para pedir socorros ao monarca, com a notícia do desastre sofrido pelos portugueses no arraial do Bengo, porque os holandeses tinham traído um acordo de tréguas entre as duas partes...


Em 8 de Fevereiro de 1645, cumprindo ordens reais, Antônio Teles da Silva, governador do Brasil, promoveu medidas para que da Bahia partisse para Angola uma armada com cerca de 260 infantes, a qual 54 dias depois fundeou na baía angolana de Kicombo. Intentaram essas forças chegar à fortaleza de Massangano ao encontro do governador Pedro César de Meneses. À frente dessa tropa ia o Sargento-Mor Domingos Lopes de Sequeira, um dos dois comandantes da expedição - o outro era Antônio Teixeira de Mendonça, ex-prisioneiro dos holandeses em Angola e que fora enviado para o Brasil -, o qual se dirigiu com a maior parte dos infantes brasileiros para a Província dos Sumbis em terras de um soba poderoso chamado Gumza-a-Kisama; ali chegados, pretenderam os expedicionários acampar - entre a sua tropa havia um grande número de militares negros do Brasil- confiantes no aparente bom acolhimento dos jagas mas estes, notando o descuido dos recém-chegados, caíram de surpresa sobre eles, degolando-os na sua maioria, apenas tendo escapado à chacina dois soldados brasileiros. Este trágico desfecho teve lugar em 19 de Junho de 1645...Seis dias depois, a 25 de Junho, chegou a Angola { aliás ao então sobado do NŽGola que era uma faixa territorial no sentido oeste-leste, no centro-norte do território hoje conhecido como Estado-Nação (...), sobado esse que, muito mais tarde, daria azo ao toponímico ANGOLA} novo socorro, também oriundo do Rio de Janeiro em 8 de Maio: quatro naus e uma embarcação menor, tudo muito bem aviado, sob o comando de Francisco de Sotto (ou Souto, segundo Silva Rêgo) Maior, conforme comunicação do capitão-general e governador do Rio Salvador Correia de Sá e Benevides de 14 de Maio de 1645. O Rio de Janeiro ficara sem gente de armas "por se aver retirado para Angola a major parte e a melhor , que foi a cargo de francisco de Sotto Major"(sic).

A expedição passou por aquela baia do sudoeste angolano aonde em meados do século XIX, brasileiros idos de Pernambuco, escapulindo da "rebelião praieira" na fretada barca "TENTATIVA FELIZ" fundariam, a partir de mais de um lustro de vivência troglodita, em cavernas escavadas, à unha, no arenito das franjas litorâneas do deserto de Namibe, a bela cidadezinha conhecida por Pérola do Namibe - Moçâmedes; depois ao largo da praia morena, em Benguela, que dá seu nome à corrente de água fria que corre em sentido sul-norte ao longo do litoral "angolano" e que explica a riqueza ictiológica e de frutos do mar e cardumes de atum daquela região, atingindo finalmente a baía de Kicombo, na actual província de Kuanza Sul onde Sotto Maior montou seu arraial, intentando fazer dali a nova capital, distribuindo terras, construindo fortificações, em resumo, preparando uma longa fixação. Queria ele esperar altura propícia para atravessar o sertão até Massangano aonde, como veremos em outro trabalho de nossa autoria, Marcelo Caetano pretendia, no seu plano secreto de 1973, que reunisse, em convocação extraordinária, a Assembléia Legislativa do Estado de Angola, de que era parlamentar o autor destas linhas, proclamando-se ali, unilateralmente, a independência de Angola a 15 de Agosto de 1974, 326 anos depois da "restauração" de Angola e do infrutífero cerco holandês a Massangano que durara 7 anos. Mas o assédio flamengo aconselhava mudança de estratégia, desistindo-se de fortificar Kicombo, onde o intrépido chefe da expedição deixou uma criação de gado a cargo do euro-africano ( nossa denominação para "mulato" que entendemos como depreciativo...) João Cardoso, e dirigindo-se a tropa para Cabo Ledo, onde hoje se exploram ricos poços petrolíferos. Ali procurou-se uma baía onde a armada pudesse ancorar em segurança e deste modo nasceu Suto, assim denominada para homenagear Sotto Maior. As forças de Massangano , comandadas por Pedro César de Meneses tentaram então o contacto com as de Sotto Maior, chegando este ao grande rio Kuanza no dia 25 de Outubro de 1645 e tomando posse do cargo de governador entrou triunfalmente na fortaleza de Massangano onde foi celebrado um solene "Te Deum" na igreja matriz.


Cedo Sotto Maior demonstrou ser um comandante competente e dinâmico. Meneses, algo poltrão, conseguiu dos holandeses autorização para passar com o seu patacho (embarcação a vela) na barra do rio Kuanza e aconselhou o novo governador de Massangano a seguir-lhe o exemplo, o que ele recusou por considerar indigna essa atitude. Iria prosseguir a longa campanha, a cada passo mais difícil, contra o gentio rebelde, aliado dos holandeses, às ordens da impiedosa, feroz e aguerrida "raínha" Jinga, que freqüentemente atacava os portugueses ou o sobas (chefes tribais) que a estes se mostravam simpáticos ou fiéis. Nos primeiros dias de Março de 1646 a turbulenta "raínha" Jinga foi clamorosamente derrotada logrando, todavia, escapar à morte e à prisão. Sotto Maior era, com efeito, a figura indómita e carismática indicada para tentar a expulsão dos invasores flamengos. Derrotada a Jinga, restava o assalto a Luanda, que não se concretizou porque o ousado e brioso Sotto Maior faleceu em Maio de 1646. Logo no Brasil se desenvolveram novos esforços, perante a passividade de Lisboa, para enviar socorros. No entanto, só em 1648 Salvador Correia de Sá e Benevides surgiria em frente da restinga de Luanda com o que lhe restou de sua armada libertadora e genialmnete iludiu os usurpadores holandeses, obrigando-os à rendição incondicional. Entretanto, no reduto de Massangano, debruçado sobre uma margem escarpada do imenso rio Kuanza (tão belo e imponente que até inspirou a denominação da moeda angolana que,à data de 11 de Novembro de 1975, substituiu o escudo português) escrevia uma das mais empolgantes páginas da história de Angola, mantendo-se inexpugnável; uma das tais páginas que o branco dito angolano, escritor e historiógrafo do MPLA mais conhecido por Pepetela, há tempos objecto de entrevista destacada na revista ÉPOCA, denigre e adultera preferindo, face à sua irresistível síndrome de Toc: filocomunista não marxista (duvidamos que alguma vez haja lido O CAPITAL...) mas eduardosantista, coloca no podium dos seus heróis póstumos a famosa "raínha" Jinga que era uma incorrigível antropófaga pois até parentes próximos engordava em cativeiro para depois lhe servirem de manjar o que, evidentemente, a "história de Angola" à maneira do MPLA-PARTIDO DO TRABALHO ( num país onde a elite preponderante de "emergentes", em sua maioria medíocres e preguiçosos ex-favelados feitos figuras gradas pela "Revolução ANGOALNA(?)"só quer mordomias e não trabalho ) não narra...É esse tipo de historiógrafos improvisados, de intelectuais de "escola primária", de presidentes ditadores - engenheiros "á la Patrice Lumumba" (alusão à soviética...Universidade para a Amizade dos Povos, que recebeu seu nome de patrono, do tristemente famoso primeiro-ministro, baderneiro, da República Democrática do Congo-Kinshasa a quem o previdente candidato a presidente Joseph Dèsirée Mobutu depois autodenominado Mobutu Seseko, se encarregou de eliminar do mundo dos vivos numa manobra histórica, à "moda africana" dos nossos tempos...

ANGOLA TORNOU-SE LUSÓFONA GRAÇAS
A UM BRASILEIRO QUE A GOVERNOU


Fala-se hoje muito em mundo lusófono mas, a verdade é que esse fenômeno não existiria hoje se houvesse sido feita a vontade do Padre Antônio Vieira, que paradoxalmente, ao mesmo tempo que ressaltava a importância do escravo negro para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro, por outro lado recomendava que se negociasse com os flamengos, entregando-lhes o Brasil e Angola....Duas parcelas de um todo, continental, o Gonduana, que se fraturou há mais de uma centena de milhão de anos, separando as partes que hoje são América do Sul e África e que agora constituem de certo modo {do ponto de vista da língua que, como dizia o poeta mais consagrado da nossa época, é a nossa verdadeira pátria}, de novo um todo, no qual povos aparentemente distintos e com nacionalidades diferentes, são foneticamente uníssonos e geneticamente fraternos.

Salvador Correia de Sá foi nomeado , por escolha do Conselho Ultramarino, em Portugal, novo governador do reino de Angola e governador e capitão-general do Brasil. De Lisboa levara 7 navios e 800 soldados, perdendo-se, porém, dois barcos durante a viagem. A armada suplementar constava de outros 4 navios cedidos pelo general Antônio Teles de Meneses, no Rio de Janeiro onde arribou a 23 de Janeiro de 1648. Os moradores do Rio e ele, estavam pagando a despesa maior como refere Cadornega. Ali Salvador Correia de Sá conseguiu alistar cerca de 900 infantes, ficando reduzida a 100 a guarnição da cidade. Ainda hoje se ignora - divergem os números dos vários historiadores que escreveram sobre essa expedição - qual foi a composição da armada:12, 13, 15, 16.... Saiu do Rio a 12 de Maio de 1648 e lançou ferro na baía de Kicombo, ao largo do litoral da atual província de Kuanza Sul a 27 de Julho. Mas, nos primeiros dias de Agosto , ainda naquele fundeadouro, uma violenta tempestade se levantou, tendo afundado a Nau Almirante , afogando-se numerosos tripulantes e soldados e o próprio comandante do navio Baltasar da Costa de Abreu. Antônio de Oliveira Cadornega, em sua "História Geral das Guerras Angolanas" enxerga neste acontecimento uma das causas do êxito de Salvador Correia de Sá, porque os holandeses, quando sem a Almirante a armada chegou às vistas de Luanda, supuseram que aquela vinha atrás comboiando o grosso da mesma. A esquadra brasileira lançou ferro em frente ao Forte do Penedo e dois capitães foram a terra dar notícia aos holandeses que estavam ali para reconquistar a cidade. Capciosamente, pediram os flamengos oito dias para estudarem o assunto, isto porque aguardavam a chegada de 300 homens que tinham em campanha no sertão; porém, tiveram que aceitar o prazo de 3 dias que Salvador Correia de Sá lhes impôs. Decorrido esse prazo, aqueles oficiais de novo foram a terra e, ao darem-lhes os holandeses notícia da sua recusa em se renderem, com um pano branco fizeram um aceno negativo para a esquadra que logo deu início a um pesado bombardeamento, sob cuja cobertura teria lugar o desembarque.


Por dois negros pescadores, Salvador Correia soube que parte da guarnição holandesa tinha já partido para Massangano a fim de conquistar aquela fortaleza, ficando Luanda entregue a 200 ou 300 flamengos.

No dia 15 de Agosto, diz-nos Cadornega, as tropas de Salvador Correia avançaram até ao convento de São José e de seguida marcharam em direção às trincheiras holandeses que atacaram vigorosamente. Os flamengos recolheram-se ao seu forte (depois denominado Fortaleza de S.Miguel) no morro de S.Paulo, e ao forte de Nossa Senhora da Guia, ignorando qual seria o número de atacantes de sua guarnição que estava reforçada por uma legião de jagas da Jinga...aliados dos invasores teutões. A Jinga concebera até o plano de empurrar para o mar todos os estrangeiros. Em primeiro lugar iriam os portugueses - escreve Silva Rêgo, nosso saudoso mestre no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa - que "mais vivazes e mais afeitos à África, ofereceriam mais resistência, apesar da crítica situação em que se encontravam. Depois, viria a vez dos holandeses." Este autor é de opinião que o ataque teve lugar na noite de 17 para 18 de Agosto. Por falta de coordenação das ampulhetas, não puderam as 3 colunas brasileiras conjugar os seus esforços pelo que sofreram pesadas baixas. Os holandeses que haviam desistido do cerco a Massangano, alertados pelo que estava acontecendo em Luanda seriam um perigo para a situação dos brasileiros, pelo que Salvador desencadeou novo ataque pela calada da noite, levando os defensores a içar a bandeira branca, rendendo-se sem condições. Era o princípio do fim... Trocados alguns reféns, têm lugar conversações para a rendição. Correia de Sá concede tudo ou quase tudo o que os holandeses pediram: saíriam com plenas honras militares e embarcariam para o Brasil em navios cedidos pelos luso-brasileiros. Cerca de uma centena de soldados catôlicos, quase todos franceses ou alemães pediram a Salvador Correia para ficarem em Angola, ao serviço de Portugal, ao que o Governador deu sua aquiescência. Escreve Silva Rêgo (op.cit.): "Este precioso reforço era-lhe absolutamente necessário. E havia também a considerar o efeito psicológico produzido nos indígenas: aqueles homens, mudando de senhor, proclamavam a excelência de Portugal. No dia 21 de Agosto assinaram-se os termos da rendição e no dia 24, Dia de S. Bartolomeu, saíram os holandeses da fortaleza, bandeiras desfraldadas, a caminho da praia de Cassondama, lugar de embarque. Salavador Correia desejara que o embarque se fizesse nesta praia e não noutra. É que fora aqui, em 24 de Agosto de 1641, que os holandeses haviam desembarcado!" (o sublinhado é do autor deste texto).
Dias depois chegaram os flamengos que tinham tentado, em vão, tomar a fortaleza de Massangano, os quais imediatamente se renderam aceitando as condições impostas e retornando ao Brasil. A reconquista de Luanda foi logo seguida pela de Benguela, São Tomé e Pinda, etc.. Salvador Correia de Sá e Benevides governou Angola até 1651, reorganizando a vida tão profundamente abalada naquele território. Ele instituiu um serviço permanente de patrulhamento da costa angolana, que era feito por 4 galés, destinando ainda duas barcas para idêtico fim no rio Kuanza. Angola dependia, economicamente, do Brasil.E a este respeito escreveu o Padre Doutor Antônio da Silva Rêgo:
"Por isso, este novo período da história angolana pode bem definir-se como sendo o seu período brasileiro.. Muitos dos seus governadores, durante este longo período, eram homens do Brasil. Citemos dois: João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros.
O primeiro governou Angola de 1658 a 1661, e o segundo de 1661 a 1666."

Quanto à "raínha" Jinga, derrotada, humilhada, teve de comparecer perante o trono onde se sentava Salvador Correia de Sá e Benevides, tendo ao lado sua esposa índia, Iara, ficando sentada todo o tempo no dorso de uma de suas escravas negras, enquanto ouvia o governador a quem, vencida, foi obrigada a prestar juramento de submissão e obediência.

E Silva Rêgo remata este capítulo da sua obra "História do Império Português" conforme abaixo se transcreve:
"A penetração para o interior pouco adiantou, porque não havia necessidade alguma de sertão. Os próprios sobas vinham vender os seus súbditos a Luanda e isto facilitava as relações entre os donos da costa e os donos do interior.
Este período passa-se todo na mesma vida. Luanda podia bem comparar-se a qualquer cidade brasileira. Os mesmos costumes, os mesmos vícios, a mesma superabundância de escravos e de escravas. A fortaleza de Ambaca era o ponto base da nossa tão desejada penetração para o interior."

Como atrás referimos, brasileiros governaram Angola até 1666. Importa citar que em 29 de Outubro de 1665 teve lugar a célebre batalha de Ambuíla, entre forças luso-brasileiras, comandadas por Luís Lopes de Sequeira, e forças do Reino do Kongo, comandadas pelo seu rei, Dom Antônio Manimulaza. O Congo, quiçá contaminados os bakongos pelo exemplo da raínha jaga, a Jinga, e pela conquista holandesa de Loanda ( Luanda...) ambicionava exercer hegemonia política sobre estas regiões. A batalha de Ambuíla, porém, em que o próprio monarca morreu, desfez-lhe essas ambições e colocou o reino no caminho da decadência."

Embora isso nos pese, temos de assinalar um fato histórico lamentável para a dignidade da cidadania brasileira: Como se sabe, a República Federativa do Brasil não só foi o primeiro país a reconhecer a "dependência" e os novos suportes dos órgãos de soberania da República (então... "POPULAR" ) de Angola (na... órbita soviética) mas também o único que ali enviou um embaixador de carreira, o qual participou, em Luanda, na Praça adjacente ao antigo Palácio do Governo Geral, que passou a ser a sede do novo governo presidido pelo falecido médico-poeta Agostinho Neto, na solene cerimônia de 11 de Novembro de 1975 cujo ponto alto foi, sob o comando daquele político angolês, a retirada ostensiva da estátua de Salvador Correia de Sá e Benevides, ato simbólico aquele que foi, acompanhando o presidente do novo país, sua comitiva e a ignorante assistência angolesa (ou...angolana, conforme os significados que a cada um destes vocábulos os políticos tendenciosamente queiram atribuir) calorosamente - "Proh pudor!"- aplaudido por aquele diplomata brasileiro, representanrte oficial do Presidente da Répública do Brasil e do Itamaraty, decerto "prima facie" pouco versado na história do seu próprio país e, como tal, desconheceder até, sobre a origem e o papel histôrico daquele personagem representado em primorosa obra prima de bronze. A este respeito, nosso único comentário consiste em repetir a exclamação do grande Cícero, provocada pela depravação de seus contemporâneos:«O tempora, o mores!»....

Carlos Mário Alexandrino da Silva


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